domingo, 4 de fevereiro de 2007

Há actividades muito monótonas mas que se forem exercidas durante duzentas horas consecutivas parecem espectaculares

Algumas pessoas terão ficado intrigadas com as questões retóricas levantadas pelo meu último post. Incrivelmente, nenhuma respondeu. Isto demonstra duas coisas: primeiro, existiu intriga, e segundo e não menos importante, tratou-se de um post. A partir daqui, não é impossível determinar com muito pouco insucesso que nunca deixaremos de negar que conseguimos transmitir exactamente o contrário daquilo que não pretendemos dizer. Confuso? Ignorem a primeira vírgula. Às vezes torna-se francamente difícil comunicar, sobretudo quando isso envolve pessoas. Duas pessoas podem estar a olhar exactamente a mesma coisa e ter interpretações diferentes, sobretudo se uma delas for daltónica. Isto remete-nos para a história de hoje. Aurélio era uma pessoa sensível, sempre sofreu muito com os problemas dos outros, talvez por ser hipocondríaco. Era muito patriota, pois costumava hastear a bandeira nacional do Zaire. Para ganhar a vida lidava com resíduos nucleares e nos tempos livres era milionário. Certo dia, enquanto hasteava a bandeira, Aurélio viu o "Você na TV". Imediatamente perdeu a fé na raça humana e passou a dedicar-se à apicultura. Como era comunista, fartou-se de explorar as operárias. Decidiu tentar a sua sorte lá fora e saiu de casa. Segundos depois a sua casa foi demolida sem aviso prévio, ficando reduzida a entulho. Passou então a dedicar-se a um negócio mais lucrativo: organizar eventos, desde manifestações, assaltos a bancos, convívios de ex-combatentes até corridas de street-racing em contramão. Mais cedo ou mais tarde, aquilo tinha de correr mal, e, durante um convívio de ex-combatentes, houve uma discussão e pessoas que se zangaram entre si. Obrigado a desistir do negócio, Aurélio passou a dedicar-se aos monólogos, que são o equivalente de um diálogo entre o professor Marcelo Rebelo de Sousa e um(a) entrevistador(a). As crónicas de Aurélio tinham alcançado um grande sucesso, pois recebia imenso feedback do público. De repente todas as televisões deixaram de funcionar, pelo que Aurélio deixou de receber feedback. No entanto, Aurélio não esmoreceu. Sempre que a vida lhe corria mal, tinha pensamentos optimistas, tais como "Amanhã é outro dia". E de facto assim acontecia. "O pior já passou", pensava também, nos dias em que o seu pior inimigo passava por ele de carro. Numa quarta-feira de manhã, enquanto olhava para a lua, teve uma ideia: meter-se nas sondagens. Pegando numa combinação das expressões "C&A", "& Filhos", "Ltd." e "S.A, arranjou um nome para a sua nova empresa. A primeira primeira sondagem telefónica levada a cabo pela sua empresa chegou a uma conclusão impressionante: um número elevado de pessoas que estão nas páginas amarelas, a roçar os 100%, possui telefone fixo. Logicamente, os autores desta conclusão foram despedidos porque isso já tinha sido descoberto há 4 meses atrás pela concorência. O negócio começou a correr mal pois Aurélio começou a perder os torneios de matraquilhos e sueca da empresa. Mas foi então que tudo mudou na vida deste homem. No dia 19 de Janeiro de 2005 do século XXI, um dia extremamente fresco e solarengo, ás 14h e 12 minutos, em Lisboa, Portugal, no Parque das Nações, mais especificamente no parque de estacionamento, Aurélio foi atropelado e faleceu.

1 comentário:

João Branco disse...

LOL.
O "voce na tv" realmente muda a vida re uma pessoa por completo!!:p
Ja agora...uma curiosidade...
O Aurelio era ke?Zairence?Zairês?Zaireco?Zairokino?LOL
[]