domingo, 28 de janeiro de 2007

Um herói um pouco mais que razoável

Conhecido por "cabeça de porco" entre os amigos e temido pelos seus inimigos, Osvaldo era um homem que habitava o rés-do-chão de um prédio de 18 andares, tendo uma vista priveligiada para as pedras da calçada. Costumava vaguear pela cidade, observando o colapso de uma sociedade amorfa e individualista, e era nessas alturas que costumava pensar: "Está frio". Apesar de não parecer, Osvaldo era um homem simples, que apreciaria as coisas boas da vida se tivesse dinheiro para as adquirir. Tinha uma rotina extremamente chata: de manhã acudia a pessoas em apuros, de tarde acudia a pessoas em apuros e à noite acudia a pessoas em apuros, excepto às terças, que era noite de bingo. Além disso Osvaldo consumia estupefacientes. Este cocktail de heroína e altruísmo conduziu a um heroísmo sem precedentes que o tornaria no primeiro herói um pouco mais que razoável do seu bairro. Utilizando os seus poderes de visão nocturna e de memória fotográfica, excepto quando se esquecia da máquina, cometia todo o tipo de proezas em nome da lei e da justiça. As suas façanhas em breve chegariam aos ouvidos da indústria cinematográfica de Hollywood, que acharam que aquilo realmente não daria grande filme. Osvaldo entrou em depressão e pensou em desistir de ser herói. Mas ser herói era mais do que uma responsabilidade, era mais do que uma forma de ser, uma forma de estar, era também usar um fato azul bébé e uma capa magenta juntamente com um capacete amarelo fluorescente. O que era sem dúvida ridículo: os heróis não necessitam de capa.

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